terça-feira, 5 de março de 2019
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
segunda-feira, 20 de abril de 2015
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
terça-feira, 6 de maio de 2014
carta ao velho basílio
seu Basílio,
O senhor me deu uma mãe e escolheu meu nome. Além disso, me deu caramelos. Sentado na sua poltrona forrada pelo seu silêncio, vi a sua mão se meter num saco de papel marrom e me estender doces, durante alguns anos. Anos suficientes para que eu não esquecesse o seu rosto. Da sua voz não lembro. Também não sei se o som que sai do meu sopro é o mesmo que saía do seu. Mas guardo o seu instrumento na esperança de que um dia o senhor ainda toque pra mim. Ou comigo. Ou que me escreva uns poemas, como me contam que escrevia. Eu também rabisco, meu velho. Queria poder te mostrar os meus escritos. Mas ocorre que sou dona de palavras inúteis.
Hoje lhe escrevo essa carta porque daí de cima o senhor entende o roteiro das nuvens. Então, hoje lhe escrevo pra dizer que guardo também a sua caneta e o seu carimbo com os seus três pontos de respeito. Quando eu estiver dormindo, venha buscá-los. E me escreva uma resposta: me ensine como seguir.
Sua neta
(há 23 anos sem caramelos)
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
erasmo
ele ficava lá, entre tantos outros vinis. Era o meu preferido. E eu não conhecia uma música sequer. Não o escutava. Nunca o fiz. Aquele era o meu disco proibido. Quando me sabia sozinha, logo corria para a estante. Dedilhava um a um até encontrá-lo. Não era meu interesse saber o que ele tocava. Era da capa que eu gostava. Aquela quentura...
Naquele quadrado de fundo branco tinha um homem e tinha também uma mulher de cabelos lisos, que eram curtos e pretos. A blusa descida no ombro. E no rosto, um olhar baixo, um sorriso de canto. Seus dedos eram finos. Eu gostava de observar o modo como ela segurava o próprio seio. Não me pergunte sobre o homem. Dele pouco sei: ele ficava de costas, mamando no seio dela.
Depois de alguns anos, não sei mais onde aquele disco está (já não há mais vinis para dedilhar). Mas sei que continua sendo o meu preferido. Hoje entendo o sorriso daquela mulher. E também aquela quentura. Um dia farei uma foto com o olhar baixo, o sorriso de canto, dedilharei meu seio e serei eu a capa do disco do Erasmo Carlos.
Naquele quadrado de fundo branco tinha um homem e tinha também uma mulher de cabelos lisos, que eram curtos e pretos. A blusa descida no ombro. E no rosto, um olhar baixo, um sorriso de canto. Seus dedos eram finos. Eu gostava de observar o modo como ela segurava o próprio seio. Não me pergunte sobre o homem. Dele pouco sei: ele ficava de costas, mamando no seio dela.
Depois de alguns anos, não sei mais onde aquele disco está (já não há mais vinis para dedilhar). Mas sei que continua sendo o meu preferido. Hoje entendo o sorriso daquela mulher. E também aquela quentura. Um dia farei uma foto com o olhar baixo, o sorriso de canto, dedilharei meu seio e serei eu a capa do disco do Erasmo Carlos.
menor
chove, maria!
maria ria. E pensava que isso justificava o seu nome e os seus dentes grandes.
Casou-se com João das Dores. Com quem aprendeu a chorar.
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