quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

erasmo

ele ficava lá, entre tantos outros vinis. Era o meu preferido. E eu não conhecia uma música sequer. Não o escutava. Nunca o fiz. Aquele era o meu disco proibido. Quando me sabia sozinha, logo corria para a estante. Dedilhava um a um até encontrá-lo. Não era meu interesse saber o que ele tocava. Era da capa que eu gostava. Aquela quentura...

Naquele quadrado de fundo branco tinha um homem e tinha também uma mulher de cabelos lisos, que eram curtos e pretos. A blusa descida no ombro. E no rosto, um olhar baixo, um sorriso de canto. Seus dedos eram finos. Eu gostava de observar o modo como ela segurava o próprio seio. Não me pergunte sobre o homem. Dele pouco sei: ele ficava de costas, mamando no seio dela.

Depois de alguns anos, não sei mais onde aquele disco está (já não há mais vinis para dedilhar). Mas sei que continua sendo o meu preferido. Hoje entendo o sorriso daquela mulher. E também aquela quentura. Um dia farei uma foto com o olhar baixo, o sorriso de canto, dedilharei meu seio e serei eu a capa do disco do Erasmo Carlos.

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