quinta-feira, 22 de março de 2012

aeronauta

da coleção das grandes palavras de aeronauta.

Tem momentos em que a literatura não nos acolhe; nem a música; nem o cinema; nem o amigo; nem Deus. Tem um momento em que tudo foge: o vento, o frio, o calor, a fome, a sede, a vontade. Você quer a mão que um dia esteve do seu lado, mas ela não chega. Você quer o escuro, o claro relampeja. Você não quer o Natal, o Natal lhe estampa na cara que esse mundo não é seu, afinal a santa ceia na sua casa nunca existiu. Você tem raiva de ser generosa, você quer estraçalhar sua roupa, você quer ficar nua no espaço, você não quer mais matar ninguém, afinal todos irão morrer. Muito menos você deseja qualquer prato de sopa, nem o abraço do mendigo, nem olhar para o céu, não quer mais crer na humanidade. Você se contorce em dor, seu corpo se decompõe, você é só trecho em branco de um sonho. E você nem desaparece, você continua, e toma pílulas e pílulas para dormir. Você compra seu sono em cápsulas, o que seria de você sem uma farmácia. Você, em calado silêncio arranca os cabelos, grita, uiva, e a noite de sábado, para quê?, não escuta, e nem precisaria. Você se livra do que Pandora não conseguiu, joga a esperança fora, antes de matá-la com perfeição. Você já não mais espera. Apenas olha.

8 comentários:

  1. Puxa vida, que homenagem! Grata, querida! Abraços.

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    1. suas palavras são como potes de sorvete ou tortas suculentas de chocolate ou bacias de pipoca quando se decide largar o corpo no sofá, dando-se um dia de presente, a chuva lá fora.
      hoje eu decidi presentear o meu blog.
      abraços!

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  2. Nossa! Incrível como tudo isso parece vir de você. ''Você já não espera, apenas olha'' não é fim da linha, talvez uma solução, uma fase. Gostei.

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  3. Incrivel mesmo. A medida exata do eu.

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  4. Sina do humano, demasiado humano.
    Paradoxo estendido, nossa alma e o mundo.

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    1. a urgência do dia a dia me colocou um pouco em stand by, aeronauta.
      mas já sinto saudade deste canto.
      beijos!

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  6. Muito, muito, muito bom! Poderia tudo isso ser epitáfio no túmulo da esperança - aquela, que deveria ser a última a morrer.
    Parabéns pela consrtução.

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